Meios animais de comunicação
Certa noite da primavera de 1986, explodiu a central nuclear de Chernobil.O governo soviético deu a ordem de silêncio.Muitas pessoas, imensa multidão, morreram ou sobreviveram transformadas em bombas ambulantes, mas a televisão, o rádio e os jornais não ficaram sabendo. E depois de três dias, não violaram o segredo para advertir que aquela explosão de radioatividade era uma nova Hiroshima, mas asseguraram que se tratava de um acidente menor, coisa de nada, tudo sob controle, que ninguém se alarme.Os camponeses e os pescadores de terras é águas vizinhas e distantes souberam que alguma coisa muito grave tinha acontecido. Quem lhes transmitiu a má notícia foram as abelhas, as vespas e as aves que alçaram vôo e se perderam de vista no horizonte, e as minhocas que se afundaram um metro debaixo da terra e deixaram os pescadores sem isca e as galinhas sem comida.Duas décadas depois, explodiu o tsunami no sudeste da Ásia e ondas gigantes engoliram a multidão.Quando a tragédia estava se incubando, e a terra recém começava a rugir nas profundezas do mar, os elefantes fizeram soar suas trombas, em desesperados lamentos que ninguém entendeu, e romperam as correntes que os atavam e se lançaram, em desabalada carreira, selva adentro.Também os flamingos, os leopardos, os tigres, os javalis, os cervos, os búfalos, os macacos e as serpentes fugiram antes do desastre.Só os humanos e as tartarugas sucumbiram. (GALEANO, 2008, p. 333).
Com o jornalismo digital, as notícias voam, lançam-se. Atualmente é o meio de comunicação mais rápido de atualização, só seria mais rápido, se os animais munidos de sua sabedoria e intuição, como exposto no texto do grande escritor Eduardo Galeano pudessem participar da web.
Os jornais digitais tem um grande impacto no processo de informação, o imediatismo das notícias é o grande salto dessa forma de se veicular o que é notícia. Além disso, a atualização é outra importante característica do jornalismo online, visto que, “a atualização das notícias pode ocorrer ininterruptamente”. (Mielniczuk, 2001, p. 5).
Nessa lógica de quem publica antes é importante ater-se ao fato da veracidade das notícias veiculadas, conferindo a autoridade do jornal, do jornalista e das fontes utilizadas na notícia.
O alcance de uma notícia, através do jornalismo digital, é enorme, algo antes quase impossível através do jornalismo impresso:
A web representa uma mudança de paradigma comunicacional [...]. Ela oferece um alcance global, rompendo barreiras de tempo e espaço como não tínhamos visto antes. (ALVES, 2006, p. 95).
Ou seja, as notícias podem ser facilmente atualizadas e facilmente alcançadas por leitores em qualquer parte do mundo.
Vídeo sobre jornalismo digital, abordando algumas características.
Nesse processo de webjornalismo Alves (2006) aborda um interessante processo de transferência do poder de escolha. Nas mídias tradicionais (jornal impresso, televisão) quem escolhe as notícias que serão veiculadas é o emissor, no processo de webjornalismo é o receptor que escolherá as notícias de seu interesse:
A comunicação se torna eu-cêntrica porque tenho acesso somente ao que eu quero, na hora em que eu quero, no formato em que eu quero e onde eu quero.Trata-se, sobretudo, de uma transferência importante de poder ou de privilégio, que passa do emissor para o receptor, numa evidente ruptura dos modelos fechados que se conheciam até agora. (ALVES, 2006, p. 95).
Todos os elementos: jornais digitais, imediatismo, atualização, busca da informação, afetam diretamente o trabalho do profissional da informação. O tratamento e organização dado aos jornais por parte destes profissionais passa a ser diferente ao tratamento dos materiais impressos.
Primeiramente, as unidades de informação deverão equipar-se com computadores ou outros dispositivos que tornem a leitura de jornais eletrônicos possível pelos usuários.
Além disso, o portal da biblioteca deverá conter os endereços eletrônicos dos jornais que mais interessem à unidade, para facilitar a busca dos usuários.
Em um mundo onde o tempo rege os passos das pessoas, acredito que o leitor buscará informações de seu interesse através dos próprios buscadores disponibilizados nos portais dos jornais. O profissional da informação não se preocupará tanto com a indexação desse material, porém terá um papel importante no serviço de referência auxiliando o usuário para que ache a(s) notícia(s) de que necessita.
E tudo isso leva-nos a pensar se os jornais impressos vão desaparecer, sou da opinião que não, ao menos não tão cedo. Sousa (2003) também é dessa mesma opinão, para ele a médio prazo, ao menos eles não desaparecerão:
Estudos comprovam que a leitura no ecrã exige cerca de trinta por cento mais de esforço dos olhos do que a leitura em papel e tão cedo não teremos uma tecnologia de ecrãs ou de e-paper capaz de contornar este problema. Além disso, o papel é portátil e manuseável. A isto acresce que os jornais com versões impressas e on-line também têm apostado numa lógica de complementaridade e não de competição entre ambas, com a utilização de serviços on-line, como os votos, os concursos e a consulta de anúncios de classificados, para estimular a adesão aos jornais impressos. (SOUSA, 2003).
Uma notícia veiculada no blog A INFORMAÇÃO, em abril de 2009, mostra uma pesquisa que divulga dados sobre o fim do jornal impresso, grande parte dos entrevistados já procura informações na internet, o que faz creer que os jornais impressos poderão desaparecer. Outros fatores como: economia, ecologia, e-readers poderão também interferir nesse processo de transição total do suporte impresso para o digital.
Referências:
ALVES, Rosental Calmon. Jornalismo digital: Dez anos de web… e a revolução continua. Comunicação e Sociedade, Minho, v. 9-10, n. 1, p. 93-102, 2006. Disponível em: <http://revcom2.portcom.intercom.org.br/index.php/cs_um/article/view/4751/4465 >. Acesso em: 24 out. 2010.
GALEANO, Eduardo. Meios animais de comunicação. In: ______. Espelhos: uma história quase universal. Porto Alegre: L&PM, 2008. P. 333.
MIELNICZUK, Luciana. Características e implicações do jornalismo na Web. 2001. Disponível em: <http://www.facom.ufba.br/jol/pdf/2001_mielniczuk_caracteristicasimplicacoes.pdf>. Acesso em: 24 out. 2010. (Trabalho apresentado no II Congresso da SOPCOM, Lisboa, 2001).
SOUSA, Jorge Pedro. Jornalismo on-line. Forum Media, Viseu, n. 5, nov. 2003. Disponível em: <http://www.ipv.pt/forumedia/5/ 13.htm>. Acesso em: 25 out. 2010.