“ Um velho copia seus próprios desenhos dos tempos de criança. São desenhos de 70 anos atrás. Enquanto os copia, sua mão treme.
Guarda alguns jornais velhos, velhos como ele, embrulhados em panos velhos, cuidadosamente amarrados. Ele tem medo que as palavras escapem.” (GALEANO, 2007, p. 99).
O senhor da história acima com certeza nunca veio a saber o que é um computador conectado à internet. Com a internet, e mais especificamente os blogs, as palavras estão soltas por aí, escapam de qualquer um e informam os outros, há uma grande propagação de informações na blogosfera.
Barros explica o que são blogs da seguinte forma “Publicações online que possuem característica um tanto quanto singular, semelhante a um diário, com pequenos textos datados, inúmeros links e uma produção textual bastante informal”. (BARROS, 2004, p. 2).
Realmente a idéia inicial dos blogs, quando surgiram há mais de uma década e durante algum tempo ainda, era ser um diário virtual. Particularmente, considero essa idéia uma subutilização de uma ferramenta tão rica em termos informacionais.
Atualmente a grande variedade de assuntos tratados em blogs e os objetivos de uso são tantos: divulgação, comunicação científica, arte, culinária, literatura, música, moda, enfim, só alguns exemplos. Provavelmente o assunto mais estranho que se pensar haverá um blog que contemple-o.
Penso que os blogs poderiam ser melhor utilizados em termos de incentivo à leitura por parte de bibliotecas e escolas. Em recente vinda ao Brasil, o escritor Peter Burke expos na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) uma série de considerações acerca da leitura e livros digitais. Para o autor as gerações futuras não terão tanta paciência para ler textos longos. É fato que o modo de ler está mudando, a velocidade com que surgem informações, as diversas atividades (trabalho, faculdade, colégio, prática de esportes...) contribuem para diminuir o tempo dedicado à leitura. Desse modo os blogs de literatura poderiam ser utilizados como ferramenta para tornar a leitura mais próxima de crianças e adolescentes.
As bibliotecas e escolas (professores) seriam os responsáveis em selecionar e repassar aos alunos blogs relevantes, de autores pertinentes e qualificados. Outro ponto interessante na leitura de blogs é a proximidade proporcionada entre autor e leitor através dos comentários, o que pode atrair ainda mais os jovens. Contos, poesias, crônicas cotidianas são facilmente encontrados em blogs, e estando em meio virtual atraem mais os jovens e crianças pelo formato interativo, e podem até incentivar esses jovens e crianças a criarem blogs e expor às próprias idéias, sobre isso a autora Wolton escreve:
[...] as novas tecnologias encorajam a capacidade de criação. Existe na realidade um imaginário, e uma criação ligada à Net, que retoma um pouco a cultura dos quadrinhos, as imagens da televisão, a velocidade, as grafites e se interessa em descobrir uma outra escrita. A internet, após a televisão e o rádio em suas épocas, relança um imaginário, uma procura de estilos e de forma que exprimem a modernidade. (WOLTON, 2003, p. 87).
Não sou uma “blogueira”, é fato que já participei da criação de alguns blogs, mas confesso não tenho tanto afinco em continuar nas iniciativas. O primeiro blog que participei foi criação minha e de uma amiga na época que trabalhávamos na Biblioteca Infanto-Juvenil Lúcilia Minssen, alimentávamos o blog com informações sobre a programação da biblioteca e informações pertinentes ao universo infantil, hoje o blog é alimentado pela equipe da biblioteca, pois não temos mais um vínculo diário com a instituição. O segundo blog que fiz parte, posso dizer que criei, foi uma brincadeira com os colegas de faculdade, chamava-se Jornal do Cabam (Centro Acadêmico da Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia), era uma espécie de coluna social dos cursos, nos eventos e festas da faculdade no qual participávamos, foi uma experiência muito divertida. O terceiro blog foi um trabalho para uma disciplina do curso, chamava-se Piratas do Software e explicava alguns pontos sobre a pirataria de softwares. Atualmente estou envolvida com este blog, porém, nunca tive um blog pessoal, não tenho esse perfil.
Considero-me uma leitora de blogs, este sim é mais meu perfil. Dentre meus preferidos estão os blogs de literatura, principalmente poesia, um dos que mais gosto de ler é o livretu, não por acaso vários amigos fazem parte desta iniciativa, mas é uma proposta interessante, pois agrega poesia de quem quiser fazer uma poesia e enviar ao blog para que seja postada, portanto é democrático e diversificado. Entre os blogs de escritores famosos gosto muito de ler o blog do Fabrício Carpinejar, escritor gaúcho que não precisa de maiores apresentações. Na área da Biblioteconomia, a iniciativa do BSF é super interessante, pois sempre apresenta alguma novidade na área e além disso, é feito por jovens bibliotecários, renovando a profissão e estimulando a troca de experiências.
O trio: blogs, leitura e biblioteca deve ser trabalho nessas instituições, porém parto do princípio que os blogs devem ser uma ferramenta de estímulo, e não o modo prioritário de leitura.
Referências:
BARROS, Moreno Albuquerque de. Blogs e Bibliotecários. Disponível em: . Acesso em: 19 ago. 2010.
GALEANO, Eduardo. Janela sobre a partida. In: ______. As palavras andantes. 5. ed. Porto Alegre: L&PM, 2007. p. 99.
WOLTON, Dominique. Internet, e depois?: uma teoria crítica das novas mídias. Porto Alegre: Sulina, 2003.
GALEANO, Eduardo. Janela sobre a partida. In: ______. As palavras andantes. 5. ed. Porto Alegre: L&PM, 2007. p. 99.
WOLTON, Dominique. Internet, e depois?: uma teoria crítica das novas mídias. Porto Alegre: Sulina, 2003.
Um comentário:
Seria muito legal se bibliotecas utilizassem de fato essas ferramentas. Tanto o blog como o twitter dialogam com os usuários de uma maneira que apenas o acervo, nao consegue alcançar.
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